O projeto ”FESTIVAL COXILHA NEGRA 4ª EDIÇÃO – 2013”é aprovado
1 - O projeto em epígrafe apresenta como produtor cultural o Sr. Lindonor de Alameida Oliveira CEPC: 3233 e será realizado entre os dias 02/10/2013 e 06/10/2013 no ginásio municipal Gastão Hoff na cidade de Butiá. Foi habilitado pelo Setor de Análise Técnica em 1/04/2013 e chegou ao relator do projeto em 16/04/2013.
O FESTIVAL COXILHA NEGRA abre espaços para as diversidades dos gêneros musicais que compõem a música regionalista do Rio Grande do Sul, promove a divulgação das raízes culturais, beneficiando em seu regulamento os artistas iniciantes que terão a oportunidade de apresentar seus trabalhos junto aos artistas profissionais. O projeto busca também a revitalização do movimento nativista na região carbonífera, proporcionando o desenvolvimento e o apoio à cultura no estado.
Segundo o produtor cultural do evento, “ nativismo é definido como qualquer movimento criado em cada região, valorizando algo do lugar como a literatura, danças, canções, indumentária e comidas típicas, tudo seguindo os costumes da região e sem interferência externas”.Este movimento teve início na década de 70 e segue se realizando de forma intermitente.
Butiá é uma cidade situada na metade sul do estado do Rio Grande do Sul, possui uma população de 20.215 habitantes, conforme informações do senso do IBGE e tem como destaque cultural e turístico o FESTIVAL COXILHA NEGRA, evento apreciado por toda região carbonífera , hoje reconhecido por músicos e críticos como um dos grandes festivais nativistas do RGS e que reúne cerca de 12.000 pessoas.
“Para o benefício das comunidades carentes o projeto oferece quatro mil ingressos gratuitos e demais ingressos serão comercializados a preços populares para suprir suas despesas do evento, e ao mesmo tempo, possibilitar a participação de toda a comunidade a todos os bens culturais do projeto. Em seu cronograma organiza a realização de uma triagem para a seleção das músicas que serão classificadas para concorrerem nos dias do Festival: 16 composições da fase estadual e 10 composições da fase regional. O projeto prevê a apresentação de sete shows de musica e dança baseado na importância que estes trabalhos exercem em benefício da cultura, além de ser uma característica marcante deste modelo de expressão cultural de relevância como manifestação estética tradutora de nossa múltipla identidade cultural, apresenta-se como uma das mais poderosas formas de preservação da memória coletiva e como um espaço social privilegiado para as leituras e interpretações da história da região sul do país. Assim os grupos apresentam repertórios selecionados que possam retratar e perpetuar nossas origens culturais para o reconhecimento das novas gerações. O projeto oferece cachê para as músicas classificadas e jurados a fim de minimizar os custos de viagem e estadia para os compositores e músicos concorrentes. A premiação motiva e valoriza os artistas, viabilizando aos compositores e cantores a continuidade de seus trabalhos em novos CDs que certamente irão contribuir para a divulgação e conservação da musica nativista no estado. Nesta edição o COXILHA NEGRA realizará o COXILHA MIRIM, atividade que acontecerá no período da manhã durante a realização do festival.
O COXILHA MIRIM levará ao palco 15 composições de artistas mirins proporcionando um espaço para novos talentos, os incentivando a explorar o mundo da musica, proporcionando assim um envolvimento para as crianças que participarão de um ambiente de integração social em igualdade de condições. As atividades para esta ação se darão nas unidades escolares durante o mês de setembro, realizando a triagem e a preparação das letras e musicas que participarão do festival. As composições vencedoras terão como prêmio o troféu para o 1º 2º e 3º lugares, e a atuação ao lado dos artistas profissionais no ultimo dia do festiva.
Serão também realizadas 17 oficinas de música abertas para a comunidade em geral.
Serão gravados 1000 CDs e distribuídos para músicos participantes, escolas municipais e estaduais, prefeitura municipal e para a SEDAC ( 100 CDs).
O custo total do projeto COXILHA NEGRA, será de R$ 229.000,00, sendo R$ 183.200, (80% do total) financiado pelos Sistemas LIC/RS e ProCultura, R$ 23.000,00 (10,04 %) pelas Prefeituras da região, R$ 21.000,00 (9,17 %) originados pela comercialização de bens e serviços ) e R$ 1.800,00 (0,79%) vindos de recursos próprios do proponente.
É o relatório
2 - O processo ora apresentado encontra-se corretamente instruído, nele constando toda a documentação suficiente para sua análise. Os valores atribuídos aos serviços de organização do evento e os cachês do artistas participantes, são compatíveis com os já vistos em eventos anteriores aprovados por este Conselho.
São de diversas interpretações, as observações que me proponho trazer à análise deste colendo Conselho. Em primeiro lugar, não estão bem claros em minha mente, os reais e autênticos valores culturais dos assim chamados “ shows nativistas “, cuja denominação , para começar, já não é nem real, nem autêntica e nem nativista. Segundo lugar, preocupam-me os tipos de ritmos, letras das canções, variedade de instrumentos executados nos chamados grupos folclóricos dedicados às origens da alma popular e na assim chamada cultura das tradições folclóricas gaúchas. Originalmente a verbete folclore é de origem anglo-saxônica e tem como significado “ tradicional beliefs, legends, customs, songs, tales or sayings preserved oraly and unreflectively among a people or group ( Webster ´s Dictionery ) . Em suma: folk é people (povo) e lore é tradicional knowledge (conhecimentos tradicionais). O verbete correspondente em alemão é folkkunde.
Jorge Luis Borges, chama nossa atenção para o fato de que os poetas, pajadores e prosadores gauchescos,ao contrário do que se possa pensar, são originados das classes cultas urbanas. O habitante das infindáveis e despovoadas planícies pampeanas era analfabeto, não conhecia qualquer tipo de literatura e diante dos constantes perigos e intensos labores em que vivia, só lhe sobrava tempo para realizar suas necessidades primárias de comer e vestir-se. E, eventualmente, participar do “ el alccol pendenciero de los sábados “. E numa brilhante boutade, tipicamente borgeana, dele dizia que “ o único luxo do gaúcho era a coragem “.
Assim vemos que a poesia e a prosa gauchescas que produziram obras de admirável emoção são gêneros literários tão artificiais como qualquer outro. Na Banda Oriental e nas “orilas“dos agrupamentos urbanos argentinos viveram poetas e prosadores como Bartolomé Hidalgo, Hilário Ascasubi, Estanislao Del Campo e José Hernandes que não reproduziam a espontânea e rústica poesia dos gaúchos, mas poemas com uma métrica, rimas e idéias citadinas, derivadas muitas vezes de figuras hiperbólicas de literaturas estrangeiras, do franceses e mesmo dos gregos e dos latinos.E Leopoldo Lugones não deixa por menos ao afirmar que as metáforas empregadas por esses pajadores “son inadecuadas en boca de gauchos “.
E o nosso maior e melhor rapsodo, Simões Lopes Netto também como seus colegas do Prata , foi também um habitante de uma sociedade cosmopolita e culta como era Pelotas de sua época A cidade sediava cerca de 50 charqueadas abastecidas com carne das estâncias da zona sul da província. Desconfio que a culta elite pelotense aspirava continuamente intensos odores de charque. Simões Lopes, comerciante e estudante de medicina fracassado, até autor de uma cartilha de leitura, mas apesar e talvez por causa disso, revelou-se um criativo e hábil contador de histórias que objetivava revelar a alma do gaúcho, embora filtrada por sua cultura literária e por suas nostalgias infantis das estâncias familiares.
Assim, examinando alguns dos shows programados para o FESTIVAL COXILHA NEGRA 4ª Edição, 1013, verificamos que os conjuntos musicais que os apresentam, mais se parecem em seu mise em scene de apresentações roqueiras e similares tão ruidosas, estridentes e frequentes em todos os eventos musicais do planeta. Um guitarrista e compositor argentino,Juan Falú, com toda uma vida dedicada à música folclórica, afirmou recentemente que “ El folclore se volviógriton” e que “ hoy tienen proyeción la estridência, la velocidad, la algarabia”. E descreve a situação na Argentina, semelhante ao nosso atual panorama ( traduzindo ):” A música popular de raiz folclórica permanece quase totalmente ausente das rádios e TVs de maior audiência. O investimento publicitário das gravadoras não apoia programas de difusão de novos artistas de raízes folclóricas.A difusão destes está nas mãos de nostálgicos colecionadores que a duras penas se mantém em emissoras de segunda linha, comunitárias ou de bairros pobres, embora também estas para sobreviver têm de fazer concessões às gravadoras e à avassaladora publicidade “.
De qualquer forma, percebo que os ditos shows de música gauchesca que se apresentam nos inúmeros festivais realizados em todos os rincões de nosso Estado, embora a forma de suas apresentações seja por assim dizer, moderna e sofisticada e intencionalmente assim apresentada para atrair platéias, seu conteúdo artístico, suas músicas e seus trajes ainda mantém algo de nossas raízes populares, o que os tornam necessários para resistir a avalanche ditatorial da pior música estrangeira divulgada maciçamente por nossos meios de comunicação.
3. Em conclusão o Projeto “FESTIVAL COXILHA NEGRA 4ª EDIÇÃO”, 2013, é aprovado por seus méritos, relevância e oportunidade, podendo vir a receber o incentivo de até R$ 183.200,00 (cento e oitenta e três mil e duzentos reais) dos Sistemas Pró-Cultura, LIC.RS. No entanto, condicionamos a liberação dos recursos solicitados, à comprovação junto ao gestor do sistema, do rígido cumprimento das normas legais sobre a prevenção de incêndios no local do evento.
Porto Alegre 06 de maio de 2013
Franklin João Marcantonio Cunha
Conselheiro Relator
Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul Departamento de Fomento Centro Administrativo do Estado: Av. Borges de Medeiros 1501, 10º andar - PORTO ALEGRE - RS