O projeto “MISSISSIPPI DELTA BLUES FESTIVAL - 2016” é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O processo trata do pedido de financiamento pelo sistema Pró-Cultura/LIC/SEDAC para a realização da nona edição do Mississippi Delta Blues Festival (MDBF), cujo projeto foi devidamente habilitado pela Secretaria de Estado da Cultura – SEDAC.
O projeto se enquadra no segmento de Música, será realizado em 24, 25 e 26 de novembro de 2016 nos seguintes locais: Parque dos Macaquinhos em Caxias do Sul, Praça do Trem em Caxias do Sul, Redenção - Porto Alegre, Estacionamento da Universidade de Caxias do Sul, Bar do Afonso em Poa, Jardim Botânico em Caxias do Sul e Bar Kerwald em Caxias do Sul.
O produtor cultural é Carlos Anuncio Michelin/Associação Moinha da Estação. A contabilidade está a cargo de Cláudia Raquel Pedrotti Prestes.
O proponente informa que o projeto tem como objetivo proporcionar à comunidade de Caxias do Sul e também de Porto Alegre shows gratuitos e interatividade com os músicos. Toda a estrutura, transporte e demais equipamentos necessários serão fornecidos com os recursos do MDBF 2016. O programa Gives Back, que foi criado com o intuito de integrar a comunidade caxiense em setores mais vulneráveis, será realizado nas entidades Lar da Velhice, na Associação dos pais e amigos dos excepcionais (APAE) e no Centro Assistencial Voluntários sem Fronteiras.
Passados 09 anos, agora na sua nona edição, já é considerado o maior festival totalmente direcionado ao blues, do continente americano, fora dos Estados Unidos. Estima-se um publico de 10.500 pessoas.
Na última edição (2015), contou com um público de aproximadamente 9.000 pessoas de diversas regiões do país e do mundo, que puderam usufruir de um ambiente totalmente voltado para a cultura e ao entretenimento. Em 2015, o MDBF realizou 80 shows (sendo 16 internacionais), 11 workshops (dança, instrumentos musicais e técnicas vocais), 01 curadoria de arte que expôs artistas emergentes do cenário local e nacional e apresentações de dança contemporânea, entre outras atividades culturais. As atrações acontecem a partir das 18 horas, acolhendo não só o público noturno, mas também crianças, famílias e pessoas de todas as idades, seguindo o modelo dos festivais de blues americanos que envolvem toda a comunidade. Além disso, contou com uma equipe de mais de 500 pessoas (entre músicos, funcionários, membros da imprensa e etc.). O evento em 2016 pretende contar com mais de 50 bandas/artistas e realizar em torno de 84 shows. Acontecerão 9 apresentações de dança contemporânea da Cia Municipal de Dança.
Wokshops de música serão realizados durante o próprio evento e também em horários anteriores a abertura dos portões, garantindo assim, o acesso a todas as pessoas que estiverem interessadas em participar. Os temas são os mais variados.
O projeto “Gaita de boca para fora” consiste em levar o blues até crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, onde serão ministradas aulas de técnicas de gaita de boca a 15 jovens no Centro Assistencial Voluntários Sem Fronteiras. O curso terá duração de 03 meses. As aulas ocorrerão quinzenalmente e terão duração de 03 horas. Após o término, os participantes poderão ficar com os instrumentos para continuar praticando e até mesmo ensinando as técnicas aprendidas para outras pessoas.
Ingressos para o festival serão comercializados, para que seja possível ter um capital inicial para pagamento da equipe principal. São várias modalidades e projeção de vendas. Serão distribuídos alguns ingressos aos patrocinadores e a escolas de música e/ou escolas públicas de regiões em vulnerabilidade social. Para os pagantes, o projeto oferece desconto da meia-entrada estendido para moradores e naturais de Caxias do Sul, além dos previstos em lei (pessoas com deficiência, estudantes, idosos e professores da rede pública de ensino).
O cronograma prevê 7 meses para pré-produção; divulgação, 2 meses; produção, 1 mês; pós-produção, 4 meses.
O custo para a realização do projeto é de R$ 1.213.633,43; foi solicitado para a LIC R$ 220.969,54; de patrocínios ou doações, sem incentivo fiscal, R$ 223.228,93; receitas previstas com a comercialização de bens e serviços, R$ 769.434,96.
É o relatório.
2. Este projeto tem merecimento e qualidade por ser uma atividade musical reconhecida e de grande valor, a partir da própria raiz do estilo da música proposta. O reconhecimento público da música blues é amplo, pois trata também da origem do rock and roll, que se fundamenta no uso de notas tocadas ou cantadas numa frequência baixa, com fins expressivos, utilizando sempre uma estrutura repetitiva — afinal essa é a melhor maneira de gerar um transe ou uma hipnose, necessário em uma situação de trabalho repetitivo, escravo e cansativo. Reparemos também que para a própria religião afro, os toques repetitivos dividido em cadencias variáveis também são usados para evocar suas divindades e comunicações de nível espiritual. De acordo com a historia antropológica do blues, ele surgiu a partir dos cantos de fé espiritual e religiosa, além outras formas similares, como os cânticos, gritos e canções de trabalho cantados pelas comunidades dos escravos. Suas letras, muitas vezes, incluíam sutis sugestões ou protestos contra a escravidão e formas de escapar dela.
O blues tem exercido uma grande influência na música popular ocidental, definindo e influenciando o surgimento da maioria dos estilos musicais como, por exemplo, o jazz, rhythm and blues, rock and roll e música country, além de ska-rocksteady, soul music e influenciando também na música pop convencional.
O mérito é demonstrado através das edições anteriores onde se destaca a quantidade de shows, o publico atendido, o número de artistas e a produção envolvida. Ao destacar os atos realizados, vemos a estrutura profissional do núcleo pensante do evento composto de diretor geral, assessor de imprensa, assessora de produção, assessora executiva, coordenador de produção, uma curadora do blues, design gráfico, uma assessoria de comunicação e um responsável pela comercialização de patrocínios.
Destaco também as 9 apresentações de dança contemporânea da Cia Municipal de Dança. Esta ação dá destaque para uma das linguagens das artes cênicas em maior crescimento no estado, aonde chegamos a encontrar mais de 5 universidades com o curso ultrapassando o número de universidades de teatro em um crescimento vertiginoso comparado ao tempo que temos a primeira universidade de teatro. Comparado ao circo? Não existe nenhuma universidade no Brasil podemos ver assim a organização da categoria de dança e a necessidade permanente de gerar mercado de trabalho. Parabenizo a construção do espaço para linguagem no festival.
Interessante escolha a do Bar do Afonso em Porto Alegre para a realização de um evento, além da Redenção, por se tratar de um bar clássico e boêmio e conhecido por ter um dono que mais lembra um motoqueiro dos anos 70, querido e adorado por jovens e adultos que frequentam o bar com muito orgulho e persistência. Um dos poucos lugares que lembram os velhos bares da nossa Oswaldo Aranha dos anos 80’ e 90’ citada em letras de canções de rock gaúcho, afinal rock é filho do blues. Como diria Frank Jorge: "(...) escute este meu desabafo que a esta altura da manhã já não importa o nosso bafo. Pega a chinoca, monta no cavalo e desbrava esta coxilha. Atravessa a Osvaldo Aranha e entra no Parque Farroupilha."
Amigo Punk, Graforréia Xilarmônica
Concluindo, o local foi escolhido pela tradição e disseminação da cultura do blues na capital.
Importante para Caxias do Sul, cidade que já alcançou durante anos consecutivos o maior índice de desenvolvimento socioeconômico do Rio Grande do Sul, uma cidade com cerca de 150 mil trabalhadores na indústria. Desses trabalhadores, 59% no setor metal-mecânico. Justamente para esses trabalhadores, hoje, contemporaneamente, tentamos oferecer a mesma música e a mesma oração que confortaram os escravos negros no nosso passado histórico. Em outra época, para que aguentassem e sobrevivessem à escravidão, mantendo suas culturas e alma fortalecida. Hoje, em forma de shows, cumpre ainda sua função em um lugar muito mais digno — no palco —, onde podemos gerar mais luz e esperança para todos trabalhadores e familiares. Repito que é importante para cidade sediar um dos maiores festivais da América Latina dedicado ao blues por sua estrutura e qualidade musical. Peço que se cumpra o Estatuto do Idoso como indica a Lei nº 10.741/2003, capítulo V, art. 23 e Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2006.
3. Em conclusão, o projeto “Mississippi Delta Blues Festival - 9ª Edição” é recomendado para a Avaliação Coletiva, por reconhecimento de sua relevância e oportunidade, a fim de receber incentivos até o valor máximo de R$ 220.969,54 (duzentos e vinte mil, novecentos e sessenta e nove reais e cinquenta e quatro centavos) do Sistema Unificado de Apoio e Fomento à Cultura – Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 07 de outubro de 2016.
Luciano Fernandes
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 10 horas do dia 07 de outubro de 2016.
Presentes: 21 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, José Mariano Bersch, Luiz Armando Capra Filho, Élvio Pereira Vargas, Erika Hanssen Madaleno, Marco Aurélio Alves, Bibiana Mandagará Ribeiro, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Ieda Gutfreind, Marlise Nedel Machado, Vinicius Vieira, Lucas Frota Strey e Walter Galvani.
Abstenções: Luiz Carlos Sadowski da Silva.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 31/10/2016 e considerados prioritários.
Antônio Carlos Côrtes
Conselheiro Presidente do CEC/RS
Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul Departamento de Fomento Centro Administrativo do Estado: Av. Borges de Medeiros 1501, 10º andar - PORTO ALEGRE - RS